domingo, 30 de junho de 2013

domingo


quando eu era criança certas palavras apareciam na minha cabeça como uma figura.
devo explicar que essas palavras não tinham objeto na vida real.
não era casa, sofá ou saia, entende?
era, por exemplo, sábado.
a que eu mais me recordo e que faz sentido até hoje (na minha cabeça).
sábado era uma bola preta bem escura.
eu não sei porquê.
os outros dias da semana apareciam como as próprias palavras escritas no ar.
mas tinha impressão que a terça era magra e que a quarta era gorda.
também não sei porquê.
mas, de fato, sábado ainda é uma bola preta, bem escura.

então, hoje, é domingo e a cara dele é bem misturada.
eu não gosto.
além de cara, domingo tem som: uma mistura da voz do faustão, com a chamada do fantástico e ônibus saindo da rodoviária.
eu não gosto.
vou tentar reprogramar minha mente para o domingo de hoje:
garoa e lasanha.
quentinho e poesia.
bem melhor.

[Fernanda]

sexta-feira, 28 de junho de 2013

e não há dúvida de que as palavras são os melhores presentes...



          Entalo poético (feito por Jéss, minha amiga flor)

Sentimentos imbuídos entalaram de palavras a moça... Eu poderia dizer que eles entalavam a moça de palavras, isso também faz sentido.
Ela tossia, tossia, e nada, até chegou a tomar um chá da vovó, mas as palavras na garganta da moça ficavam se empurrando e se ajeitando em várias filas, confusas em saber qual sairia dela primeiro. Deveriam talvez ser as palavras com gosto de trabalho café, mas as de chocolate com os amigos teimavam em sair primeiro, só por serem mais doces e alegres achavam que ficariam sempre mais bonitas em uma poesia, mas as palavras de café sem açúcar diziam que “não,  vida não é feita só de doces, ela precisa falar das coisas amargas para desengasgar” e as palavras de tamarindo concordavam ouriçadas e altivas, pois os azedos estavam desejosos em sair lá de dentro e serem misturadas à doce essência daquela moça para moldarem-se em uma rima poética.
Eis que o sol despontou mais uma vez no mar, e como toda a passarada acorda festejante de raios amarelos, o sanhassu morador do coração da moça não foi diferente, sacudiu suas peninhas azuis acinzentadas e pôs- se a cantar e bicar palavras. As apavoradas palavras não discutiram mais nada e misturancorrendo, doce com amargo e amargo com azedo e cítrico com açucarado saíram depressinha do coração da moça até suas mãos delicadas.
Assim nasceu no dia um prato de palavras bem casadas. Viva os noivos! Viva o padrinho sanhassu rei da passarada!

Jéss.