quinta-feira, 26 de fevereiro de 2009

quando ele a viu


quando ele a viu por entre as frestas da janela
a imagem quase infantil do sorriso lateral bastou.
escrevia algo, ou desenhava, ou rabiscava...
[o que for, ela estava sorrindo]
havia nele uma quase vontade de desviar das persianas,
de pousar sobre o criado mudo e perguntá-la:
O que quer, pequena?
mas a imagem dela, sorrindo, bastou.
ele a viu levantar, o lápis esquecido sobre o papel,
os olhos pregados sobre as mãos,
e houve nele uma quase vontade de desviar das persianas,
de chocar-se contra ela,
derrubando-lhe o peso dos olhos e perguntá-la:
O que quer, pequena?
mas, fugazes, as mãos dela alcançaram o ar numa dança silenciosa
e, aquela imagem, súbita e incoerente, bastou.
então, ele a viu girar, girar e girar
e se jogar, se jogar de frente sobre a cama,
levantando poeira, incomodando o vento...
ele viu o encontro dos cílios e sua respiração de mar.
e pensou ele já ser tarde, do sono ser longo...
mas recorreu-lhe ter pés líquidos,
e nos ombros dela, pousou.
e desejando que sua voz, nunca ouvida, desfizesse seus sonhos de nuvem, sussurrou:
O que quer, pequena?


[Fernanda]

segunda-feira, 23 de fevereiro de 2009

quando ela o viu


O que quer, pequeno?
se tuas asas são recortes de vento,
e, se me aproximo, hei de parecer pesada,
quando sou leve...



[Fernanda]

domingo, 22 de fevereiro de 2009

quando a palavra foi cais

mãos fechadas seguram um beijo que se dissolve.

sábado, 14 de fevereiro de 2009

Porque tudo tem que partir


À hora de ir,
seu coração apertado mais que um sonho longo
sua dor menos dor que à primeira vista,
e o brilho de olhos quase lágrima
[que não caiu]
era a hora de ir
tão esperada,
embalado Álvaro de Campos
malas prontas de véspera de véspera,
as roupas novas que sentiria,
as sensações novas que vestiria,
as cores de um sabor conceitual.
e as flores do outro lado da grade da grade,
e novo néctar a escorrer-lhe a garganta
seca na hora de ir.
à hora de ir,
tocou-lhe os lábios
num beijo que volta
que promete-se melhor,
d’um pássaro novo, asas treinadas pra toda partida
[porque tudo tem que partir]


[Fernanda]

sexta-feira, 6 de fevereiro de 2009

Poema lido por Maria Bethânia no show Maricotinha

" Eu sei que atrás desse universo de aparências, das diferenças todas, a esperança é preservada. Nas xícaras sujas de ontem o café de cada manhã é servido. Mas existe uma palavra que não suporto ouvir e dela não me conformo. Eu acredito em tudo, mas quero você agora! Eu te amo pelas tuas faltas, pelo teu corpo marcado, pelas tuas cicatrizes, pelas tuas loucuras todas, minha vida. Eu amo as tuas mãos, mesmo que por causa delas eu não saiba o que fazer das minhas. Amo o teu jogo triste e as tuas roupas sujas é aqui em casa que eu lavo. Eu amo a tua alegria mesmo fora de si, te amo pela tua essência e te amo até pelo que você podia ter sido, se a maré das circunstâncias não tivesse te rebanhado nas águas do equívoco. Te amo nas horas infernais e na vida sem tempo...Te amo pelas crianças e futuras rugas. Te amo pelas tuas ilusões perdidas e teus sonhos inúteis...
Amo teu sistema de vida e morte, te amo pelas tuas entradas, saídas e bandeiras e te amo desde os teus pés até o que te escapa. Te amo de alma para alma e mais que as palavras, ainda que seja através delas que eu me defendo quando digo que te amo mais que o silêncio dos momentos difíceis, quando o próprio amor vacila."

[autor desconhecido]

lindo, não?