sábado, 31 de janeiro de 2009

porque o sonho é preto e branco e unilateral


ela passou por ele com seu sorriso incompleto. ele, sério. ela olhou para trás. a mochila de sempre. eu sou a espectadora da óptica dela. o resto, eu não sei dizer.
[Fernanda]

domingo, 25 de janeiro de 2009

Num tempo bom de olhar para o céu
Por haver azul limpo ou desapego de nuvens
Venha e me leve...
Num dia chuvoso, com o asfalto lavado
e a padaria longe, as cinco, na hora do pão
venha e jogue pedras de terra na minha porta
que manchem, que façam estrago
mas venha e me leve...
Enquanto procuro palavras no sótão, por haver engasgado no almoço
Vendo nelas o meu elixir
Suba as escadas, me tira o lápis da mão
E, na minha boca, com a tua boca, deixe as palavras
E me desassossegue e venha e me leve...
Num dia comum, exageradamente comum,
Grita meu nome no portão
E não espere eu abrir
E não espere meu sorriso [eu também te gosto sério]
Deixe seus olhos nos meus e venha e me leve...

[Fernanda]

sábado, 24 de janeiro de 2009

Hora de rever a tribo


Hora de rever a tribo
aquele lugar onde os pensamentos não se debruçam na janela
e não falar e falar dá no mesmo – tudo é sensação
onde se despir ao ar livre é natural
e, correr assim, é só uma vontade como outra qualquer que dê libertação
porque a loucura, na tribo, é se engessar
porque a loucura, na tribo, é se poupar

Hora de rever a tribo
aquele lugar onde, na aldeia, a Terra é satélite
porque o espaço, na tribo, é o que há
porque o espaço, na tribo, sempre suporta mais uma bolsa e mais um e mais uma idéia e pássaros
porque o que não cabe na tribo são cômodos [ e nada divide]

Hora de rever a tribo
Tira o papel com o endereço do bolso da calça, daquela jogada no fundo da gaveta da cômoda velha
Chama papai, mamãe – chama também o cara.
Senão, pegue um papel – papel toalha, papel de agenda sem dia marcado, papel de bula...
E escreve assim: “hora de rever a tribo. bjos”

Coloque na porta da geladeira [não tem melhor lugar nessa civilização].


[Fernanda]

domingo, 11 de janeiro de 2009

A história da equilibrista aposentada


Seu nome: Rita, a mulher da corda bamba. E haja equilíbrio! Muita força, muita concentração, muito treinamento. Hoje, Rita aposentou-se. Disse já não ter idade pra esse tipo de coisa e jurou-me não estar triste. Eu perguntei se ela não sentiria saudades dos aplausos e tal. Rita me disse que sentiria saudades de cair na rede. A melhor sensação, Rita disse, se deixar cair depois de um puta esforço. Eu sorri. Eu teria escrito "nada pior que evitar o desequilíbrio; nessa fuga: obedece-se, recua-se, acomoda-se..." Mas aí, veio a Rita. Muito melhor que eu.
[Fernanda]

quarta-feira, 7 de janeiro de 2009

ela era elas


que a vida só tem uma
ela virou do avesso
e elas todas vibraram na mesma batida
aLi
quase um reggae...
que a vida só tem uma
ela era todas
elas
aLi brincando
sentido as texturas,
provando gostos,
que a vida só tem uma
ela estava meio embriagada
de palavras, de sons, de leveza,
de todas elas.
que a vida só tem uma
ela era elas.


[Fernanda]

terça-feira, 6 de janeiro de 2009

Dilua-me

Há todo este pote de exagero em mim!
concentrado, denso, pesado...
negando o cru,
gotejando uma poesia de todas as horas,
mas a vida não é poética!
Dilua-me!

Há toda essa multidão de palavras fazendo fila aqui,
sobrepondo-se, umas querendo o foco mais que outras...
a boca é minha,
eu deveria calar...
mas eu as amo demais...
e esqueço que o paladar é do outro!
Dilua-me!
[Fernanda]

domingo, 4 de janeiro de 2009

Se eu pudesse lhe pedir...



Eu queria beijar tua face, Pessoa.
No espaço exato entre a maçã do rosto e o nariz.
E, encerrada ali,
diria:

Dê-me tuas palavras que falam de mim,
pois me conheces
e eu, não.


[Fernanda]

sexta-feira, 2 de janeiro de 2009

Ser mal interpretada

Ser mal interpretada!
Que desejo bom...
Afinal, quem pode nos dizer o que virá de uma leitura dessa?

O acaso bem vindo, o inusitado casam-se bem.
O premeditado foge às esquinas,
ao ângulo reto destas.
Eu prefiro os obtusos, os agudos.

As palavras, as entrelinhas...
se perdem aqui o que os gestos somam!
Ser mal interpretada!
E reler,
E reler,
E reler...

Se eu me confundo, se eu me misturo,
Se acordo e adormeço ao mesmo tempo,
Se eu louca e quadrada,
Se eu amável e cretina,
Se eu sensível e influenciada.
Se eu silêncio e grito.

Ser mal interpretada!
Poderia ser uma piada.


[Fernanda]

ela preferia somar


ela o abraçou.
ela o beijou.
ela cantou pra ele.
ela contou como foi seu dia.
ele contou como foi seu dia.
ela preferia somar.
[Fernanda]

quinta-feira, 1 de janeiro de 2009

[fragmento]


Beijou-me o ombro,
e se foi...
[Fernanda]