para mim o contentamento está em coisas difíceis de serem feitas:
é preciso muitas árvores, mangueiras altas, de copas volumosas;
é preciso garapeiras quase desnudas de folhas, mas de troncos fortes
duas a três jabuticabeiras sardentas, de olhinhos nascidos no verão
um gramadinho com matinhos altos, onde se escondem os sabiás dos gatos
quando no terreno querem catar bichinhos rasteiros;
e, claramente, serão necessários muitos bichinhos rasteiros para a sorte de passarinhos que compõe o contentamento.
e é preciso se ter uma casinha no meio do contentamento.
e que esta casinha seja feita de barro à moda do joão,
que dentro dela haja sofás de tecido macio pra deitar
e que na janela baixa do quarto, não se tenha perigo de sentar.
é preciso também que gatos e cachorros tenham acesso à casinha: de dia ou de noite,
pois são parte da família.
e a família compõe parte grande do contentamento,
pois, nele, é preciso também esquisitices da natureza humana.
para mim o contentamento está em coisas difíceis de serem feitas:
pois não conheço quem saiba construir árvores, gatos e passarinhos e nem as frutas das árvores.
por isso, penso eu, ser o contentamento a parte que nos cabe deixar crescer.
eu aprecio todos os dias o crescimento do meu espaço de contentamento no mundo,
e, por não saber fazê-lo, admiro Deus e tiro fotos.
[Fernanda]
* Obrigada meu querido Manoel de Barros pela inspiração de "para compor um tratado sobre passarinhos(...)". Manoel de Barros, que também é parte grande do meu contentamento.
** Na foto, Petit, o campo e o lírio.
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4 comentários:
Queria conseguir definir em uma única frase o meu contentamento por ler isso, mas como sou obesa no sentir eu escolho dizer que é lindo.
Sempre passa um tempo até eu visitar seu blog.
E acabo de perceber que gosto desse tempo, porque é tão bom chegar aqui e encontrar as belezas de suas novas escritas...
Belíssimo texto!
O contentamento é tão grande, que nos faz ler sorrindo (=
Fernanda, quando vi a notícia que Manoel de Barros se foi ontem; logo lembrei de seu escrito. Do pedacinho que ele te inspirou colocar.
Está eternizado... será sempre parte deste belo texto e de seu contentamento. Um poeta nunca morre!
Um beijo
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